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Entrevista: Carreira de Assistente Editorial e Imprensa - LabCarreiras

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Entrevista: Carreira de Assistente Editorial e Imprensa

 

Sâmela Hidalgo

 

Olá pessoal,

Hoje vamos falar sobre a profissão de Assistente Editorial e Imprensa, para isso convidamos a Sâmela Hidalgo para contar um pouco para nós sobre sua experiência na profissão. Confira:

 

Olá Sâmela, conta para nós como foi sua inserção no mercado de editorial e imprensa. O que te fez escolher esse tipo de serviço?

Olá!

Meus pais sempre influenciaram muito a leitura na minha infância, mas foi aos 11 anos – com Pedro Bandeira – que eu me apaixonei de verdade pelos livros. Virei uma leitora voraz. Quando larguei a faculdade de arquitetura em Manaus, em 2013, decidi procurar algo que realmente eu amasse. Foi então que eu encontrei esse braço da Comunicação Social: a Produção Editorial.

Em 2015, larguei tudo na minha cidade e mudei pra São Paulo com o propósito de fazer carreira nessa área. Sempre pensei que acabaria trabalhando em uma editora de livros, mas foi nas histórias em quadrinhos que realmente me encontrei. Entrei no mercado editorial por indicação de uma amiga da faculdade. Ela trabalhava na editora Devir e em 2016, um ano depois que cheguei em São Paulo, ela acabou mudando pros Estados Unidos e fiz entrevista pra ocupar a vaga dela que estava aberta. Fui contratada por um diferencial: na época, eu tinha um canal de livros no YouTube.

Além do meu trabalho no setor editorial, esse ano assumi também a área de imprensa. Isso basicamente caiu no meu colo depois da saída da funcionária que cuidava desse setor.  Perceberam que eu tinha um conhecimento e contato mais próximo com os influenciadores e essa função acabou ficando comigo.

 

O que exatamente você faz no seu trabalho, conte um pouco sobre sua rotina.

Na função de imprensa, eu basicamente faço um estudo de influencers digitais, revistas, podcasts, televisão e outras mídias. Vejo quem tem o perfil dos nossos títulos, faço contato e proponho parceria para a divulgação da nossa marca e produtos. Seleciono quais quadrinhos eles vão receber, de acordo com o perfil do público deles, e acompanho o desempenho depois disso. Eu procuro estreitar a distância entre a editora e os leitores, através da mídia.

No editorial, eu dou suporte aos editores e ao coordenador; elaboro textos internos de divulgação e textos comerciais; faço aprovação e planejamento de peças publicitárias e marketing do quadrinho, sou encarregada dos direitos autorais nacionais e internacionais e também encarregada do contato com os autores, colaboradores e fornecedores; faço parte do planejamento do projeto editorial; e também sou a responsável pela distribuição dos títulos da editora e de outras editoras para todas as lojas especializadas e livrarias do país.

 

De que forma equilibra as leituras de livros, HQ, séries e o trabalho. Tem tempo pra isso tudo?

A forma que encontrei de equilibrar tudo isso com a leitura e as séries é basicamente ocupando qualquer tempo livre que eu tenha. Geralmente dentro do ônibus, no completo caos do trânsito de São Paulo. E, claro, aos fins de semana tento me desligar um pouco de leituras relacionadas à trabalho e me dedico à outras leituras.

Mas as vezes é difícil! É muita coisa pra ler, escutar, assistir…

 

Existe algum mito ou tabu que você tinha antes de entrar nessa profissão?

Algo que foi completamente desmistificado por mim mesma quando entrei na editora é aquela ideia que: ser editor é passar o dia inteiro apenas lendo. E é também. Mas tem muito trabalho burocrático envolvido, além da leitura. Tem contas, tem planejamento, tem ideias, tem negociação. É muito além do que só sentar e ler.

 

Conte um pouco como é residir longe da sua família?

Difícil, difícil demais. Eu, constantemente, falo sobre isso nas minhas redes sociais – em especial no twitter. Eu sempre fui muito ligada à minha família, então tomar a decisão de mudar pra São Paulo completamente sozinha, não foi fácil. Mas foi necessário! Nem sempre conseguimos ser forte, né? Então a saudade bate demais, as vezes chega a derrubar. E tudo o que a gente quer nessas horas é o colo e carinho do pai e da mãe.

Mas eles, mesmo distantes, estão sempre presentes. Sempre participam de cada crescimento pessoal e profissional e cada conquista minha. A gente faz questão de não deixar a distância afetar nosso relacionamento. Estamos sempre em contato.

 

Você percebeu alguma diferença nesse mercado de trabalho de onde morava para o local que está hoje? Se sim quais?

Em Manaus não temos uma cena expressiva do mercado de histórias em quadrinhos. Claro que há artistas, quadrinistas e ilustradores incríveis, mas é muito difícil o reconhecimento. Ainda temos uma centralização do mercado muito forte que se aplica apenas no eixo sul-sudeste. Torço muito pra que isso mude com o tempo. O Brasil é um país enorme, com uma cultura riquíssima e o norte, nordeste e centro-oeste precisam urgentemente serem incluídos nesse meio.

Eu sempre bato nessa tecla de levar e fomentar a cultura pop pra outras regiões, principalmente pro norte do país. Precisamos descentralizar, precisamos abrir portas e dar oportunidades pra que pessoas fora desse eixo entrem no mercado. Precisamos de outros olhares, outras formas de ver o mercado, outras formas de contar histórias, outras narrativas. E só conseguiremos trazer essa pluralidade de ideias, se começarmos a descentralizar. E é o que eu venho tentando fazer. Sou uma mulher nortista, que está começando a ter uma certa visibilidade no meio, então meu objetivo é dar voz a essa pluralidade, levando cada vez mais o norte comigo e a fomentação da cultura pop por lá.

 

Diga um ponto que você admira muito no seu trabalho

A oportunidade de poder ler e produzir histórias incríveis! E de ajudar na formação de leitores e inserir cada vez mais a cultura da leitura no país, que sabemos que é difícil. Sempre me bate aquele orgulho e admiração em ver um olhar apaixonado no rosto de um leitor que descobre o prazer de uma grande história.

 

Qual trabalho você gostou mais de ler ou jogar?

Liga Extraordinária Dossiê Negro e Liga Extraordinária 1898, do Alan Moore.A elaboração e planejamento desses dois projetos foram bem difíceis, mas incrível! Tivemos que pensar em cada detalhe. No Dossiê Negro, há páginas que são inteiramente em 3d, então tivemos que produzir óculos 3d pra conseguir colocar dentro da edição. Já no Liga 1898, a sobrecapa do quadrinho vira um jogo de tabuleiro e vem com personagens destacáveis pra você jogar e se divertir. Tenho muito orgulho de ter feito parte desse projeto e dessa equipe.

 

Ao longo das entrevista que venho fazendo em diversas áreas, percebo uma flexibilidade em determinadas profissões sobre ensino superior (ou não é necessário ou não possui uma especifica). Você me contou que trancou a faculdade, como é esse processo de estudo para seu ramo de atuação ou não é tão necessário ou especifico.

A faculdade que forma um editor é o curso de Produção Editorial (ou editoração). Porém, não é necessário ter exatamente essa formação. Muitos editores que conheço fizeram jornalismo, letras, publicidade e diversos outros ramos ligados à leitura e à criação. Portanto, hoje, consigo ver que a graduação na área não é especificamente um pré-requisito. Mas, claro que é uma parte que ajuda muito, porque te prepara teoricamente pro mercado. Tranquei a faculdade temporariamente, mas pretendo concluir.

Nesse meio tempo, costumo fazer meus estudos em casa mesmo de uma maneira autodidata – lendo bastante livros teóricos sobre historias em quadrinhos, narrativas, tradução e etc. E também fazendo cursos específicos voltados pra edição de histórias em quadrinhos.

 

Onde você trabalha tem um foco na criação; vi que você foi prestigiar Fefê Torquato na sessão de autografo, foi uma coisa mais pessoal ou o trabalho também possibilita isso. Você tem contato com autores ou escritores?

Sim, o trabalho possibilita muito conhecer de perto os autores, mesmo de outras editoras. Mas, nesse caso da Fefê em específico, foi uma coisa pessoal. Fui pra pegar autógrafo e tietar mesmo.Ela é incrível, tanto como pessoa, como quadrinista.

 

Como é o processo de escolha dentro da editora para qual trabalho será publicado? Você tem alguma dica para quem quer publicar?

Com as obras internacionais, o processo é a base de pesquisa mesmo. Estamos sempre de olho nos títulos que estão saindo lá fora, principalmente no mercado norte-americano. O que está em alta, qual autor está bombando, e como o mercado brasileiro abraçaria essa obra na atual situação e contexto, e que tenha a ver com a nossa linha Editorial. Acabamos lendo bastante coisa que sai por lá e trocamos ideia entre a equipe.

A dica pra quem quer publicar é primeiramente estudar as editoras que você vai entrar em contato. Não adianta nada mandar sua obra de fantasia para uma editora que publica autoajuda, por exemplo. Vá atrás de editoras que publiquem o mesmo gênero que a sua história, que converse com o seu público. Isso já ajuda bastante!

 

Você conhece outras pessoas de outras editora que trabalham na mesma função que sua, qual é a sua impressão do mercado?

Eu percebo uma mudança boa no mercado nos últimos tempos. O setor editorial passou por uma crise financeira bem difícil nos últimos anos, onde editoras, lojas, livrarias e gráficas encerraram suas atividades. Mas, felizmente, conseguimos nos recuperar e as coisas estão começando a se estabilizar, penso eu. Mas muita coisa está mudando. Tem muita gente nova entrando e trazendo novas ideias. Então, acredito que os próximos anos serão de crescimento e novidades.

 

Você grava vídeos para a empresa que trabalha, como é esse processo? Você mesmo faz os roteiros, conte para nós como é o processo de gravação.

Depende do vídeo. Vídeos mais elaborados com edição e que vai ser publicado no nosso site, eu mesma faço o roteiro e ele é aprovado pelo gerente editorial. Quando gravo os vídeos pro stories do Instagram da editora, é na base do improviso mesmo, porque é uma conversa mais informal e rápida.

Sempre que temos um lançamento, nos reunimos e falamos “hoje chegou o quadrinho tal, se prepara aí que depois do almoço vamos gravar”, e aí a gente simplesmente só liga a câmera, enquadra e grava. As vezes precisamos gravar mais de uma vez, por causa de barulho ou porque eu esqueci o nome do autor ou esqueci de dar alguma informação importante. Mas, no geral, é bem rápido, coisa de 10 minutos, no máximo.

 

Você faz trabalho voluntario (@Catlandrescue), conte para nós um pouco o que te motiva a fazer esse tipo de trabalho. Você acha que isso faz diferença em uma contratação, no seu caso fez? Você consegue perceber algo assim na empresa que trabalha?

Eu sou apaixonada por gatos, uma catlover de carteirinha mesmo. Eu sempre quis fazer voluntariado e apareceu a oportunidade de me juntar à Catland em 2018.No meu caso, em específico, não fez muita diferença porque eu já trabalhava na editora quando comecei o voluntariado. Mas, o que eu percebo, é que os funcionários da empresa vê em mim uma ‘especialista’ no assunto. Então eles me procuram quando acham uns gatinhos abandonas na rua, ou perto da casa deles.

Já teve um funcionário, por exemplo, que chegou na editora com uma caixa com 2 gatinhos que ele resgatou na beira da estrada. E ele simplesmente deixou a caixa na minha mesa.Então, eu fiz o que eu tinha de fazer. Levamos eles pro estoque da editora, demos água, comprei comida e comecei a anunciar na internet que eles estavam procurando uma adoção responsável. Recebi várias mensagens com pessoas interessadas e fui fazendo uma mini-entrevista pra saber quem seria mais apto a adotá-los. Escolhi uma moça que já tinha outros gatinhos e, depois do expediente, levei os gatinhos até a casa nova deles.

Então, depois disso, outras oportunidades de ação voluntária começaram a surgir. E não só sobre animais. Fizemos uma doação de quadrinhos para um Sarau de crianças da Cidade Tiradentes, periferia da Zona Leste aqui de São Paulo, em parceria com o Load – influenciador digital. Eu fui lá pessoalmente entregar e nada se compara à ver aquelas crianças sorrindo ao receber um quadrinho. Foi incrível!

 

Você tem alguma dica para quem quer entrar nesse mercado de trabalho?

Minha dica é: faça contatos! O mercado editorial – principalmente o de quadrinhos – é feito na base da indicação. Então, vá em eventos, interaja com os profissionais da área, faça cursos relacionados à isso. Esteja presente! É tudo networking. E leia muito!

 

 

Doação de quadrinhos para um Sarau de crianças da Cidade Tiradentes

 

 

 

 

Entrevista por Tamires Mascarenhas

 

 

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