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Entrevista: Carreira de Jornalista Free Lance

                            Lucas Ferraz na cobertura da final da Copa América, em 2011.

 

 

 

Conte um pouco sobre sua trajetória acadêmica e como seus estudos te orientou na sua escolha profissional.

Fiz o caminho inverso: foi a profissão que me levou a estudar jornalismo (minha formação). Comecei a trabalhar meio de brincadeira, meio a sério, aos 16 anos, num jornal de minha cidade (Itabira, MG; o jornal se chamava O Cometa Itabirano, criado em 1979 e que deixou de circular há alguns anos. Mensal, o jornal teve uma certa importância regional, publicou poemas inéditos do Drummond, fez reportagens sérias e provocativas, enfim, era fortemente influenciado pela imprensa alternativa dos anos 70, Pasquim, Movimento, etc). Depois fui estudar em BH, onde me formei (na Newton Paiva, uma universidade privada). Até o momento tenho só a graduação, mas espero fazer algo na academia em breve. Se pudesse, teria estudado outra coisa (história?, economia?), não acho que um curso de jornalismo faça um jornalista. Não defendo a obrigatoriedade do diploma para exercer o ofício.

 

De que forma você começou seu trabalho com o jornalismo freelance. E como você faz suas escolhas de trabalho.

Comecei há quatro anos. É um caminho natural para muitos na minha profissão — trabalha-se quase sempre melhor, com mais liberdade, e muitas vezes podendo escolher o que fazer. Mas há o aperto financeiro e a insegurança, claro. Está no horizonte de qualquer freelancer. Atualmente concilio entre as contas a pagar e o que acho mais interessante fazer daqui onde estou.

 

Conte um pouco para nós sobre os lugares que você já trabalhou e/ou morou como Nova York, Buenos Aires e Moçambique. Sobre as diferenças culturais, diferença na tratativa do seu trabalho.

Foram experiências diversas: em NY trabalhei como freelancer para a Folha de S.Paulo, tinha liberdade; em Buenos Aires fui correspondente do jornal, um período estimulante e de muito trabalho. Em Moçambique foi algo diferente, fui ser instrutor de um programa de jornalismo investigativo para profissionais do país. Aprendi muito em todos eles.

 

Como é desenvolver um trabalho para lugares tão diferente?

É a parte mais estimulante do jornalismo: nada será como antes. Apesar das agendas serem repetitivas, sempre um trabalho será diferente do outro.

 

Como foi sua inserção nestes lugares de trabalho (BBC Brasil, Valor Econômico, Agência Pública, Época, Piauí e Galileu). Você tem alguma dica para quem deseja se inserir nessas empresas.

Eu colaborei com esses lugares porque conheci (ou trabalhei em algum momento da carreira) com jornalistas e editores que estão nessas empresas. O círculo profissional é amplo e geralmente todos se conhecem. A dica para se inserir é trabalhar. Quero dizer: o trabalho traz uma reputação (nem sempre boa, claro) que pode te ajudar. Os concursos são raros no meio, então é preciso ter serviços prestados (portfólio, etc).

 

Qual é sua análise do mercado de trabalho de Jornalismo no geral. Quais são os maiores desafios que você enfrentou ou enfrenta.

É um mercado que vive uma profunda crise — moral, financeira, de credibilidade, de procedimentos, etc; crise e problemas não faltam. O modelo de negócio do jornalismo dos últimos vinte anos não existe mais. Para piorar, um novo modelo ainda não se consolidou: minha geração (de excelentes jornalistas, diga-se) está pagando um preço muito alto. O maior desafio é viver dignamente do jornalismo, algo cada vez mais difícil. A profissão ainda passará por muitas transformações nos próximos anos. Ninguém sabe o que nos espera.

 

Qual fato que você trabalhou e te marcou.

Vários. Se é para escolher um, citaria uma reportagem que fiz para a Agência Pública em 2016 que me obrigou a viajar por três semanas o interior do Mato Grosso, dormindo em terras indígenas, cruzando rios e explorando pequenas cidades.

 

Há alguém hoje no jornalismo que é sua referência?

Há várias pessoas. No Brasil e fora. O Janio de Freitas é para mim, há muito tempo, uma referência não somente profissional, mas também moral. O Brasil tem grandes jornalistas. Gente jovem e gente que já se foi. Muitos. De fora, gosto muito do Seymour Hersh, um dos grandes repórteres da história do jornalismo americano, ainda vivo.

 

Para você qual é a diferença do jornalismo do Brasil para os países onde passou.

O jornalismo brasileiro reflete a sociedade brasileira. Para o bem e para o mal. Ainda somos muito atrasados, o Brasil não tem massa crítica para consumir jornalismo como acontece nos Estados Unidos e Europa. Isso faz toda a diferença. Mas temos alguns poucos nichos de excelência.

 

Como é trabalhar no exterior? Quais conselhos você poderia dar para quem tem esse desejo?

É estimulante, um aprendizado contínuo. É fundamental conhecer a língua do país e sua história. É preciso estudar, sempre. Ler bastante e conversar sempre com os locais.

 

Como foi viver em outro país e passar por essa pandemia? Se você puder contar como foi passar esse tem em Lockdown.

Foi menos traumático do que imaginava. Somos capazes de nos adaptar a tudo. Eu trabalhei durante o confinamento, continuei saindo de casa, o que fiz com grande estímulo e satisfação. Isso ajudou. Mas a pandemia ainda não terminou, infelizmente.

 

Qual foi a maior dificuldade para viver em um país estrangeiro? Como é o processo se interagir e se sentir pertencente ao local.

A maior dificuldade é compreender o país para poder narrá-lo a outras pessoas.

 

Você tem alguma dica para quem quer ser jornalista correspondente. Como se conectar as empresas de jornalismo.

Infelizmente este é um péssimo momento para ser correspondente — sobretudo para o Brasil, com as empresas de jornalismo vivendo sérias dificuldades e investindo muito pouco em coberturas no exterior. A minha dica é tentar construir primeiro uma carreira no Brasil. Isso pode facilitar depois o trabalho no exterior.

 

                                        Lucas em uma carona no Peru em 2014, durante uma reportagem.

 

 

 

 

 

 

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